sexta-feira, 5 de abril de 2013

"Meu filho?! Parte I"

Reflexões de Janusz Korczak. Como amar uma criança. p. 30-31

                                                                     Foto escultura extraída da internet, autor não citado.

Você diz: " meu filho".
Quando, senão apenas durante a gravidez, você o direito de dizê-lo? A batida de um coração tão pequeno como o caroço de um pêssego faz eco em seu pulso. É sua respiração que fornece oxigênio. Um sangue comum a você circula em ambos, e nenhuma destas gotas vermelhas sabe ainda se ela será sua ou dele, ou se, derramada, será preciso que morra em sacrifício ao mistério da concepção e do nascimento. Este pedaço de pão que você está mastigando é material para a construção das pernas sobre as quais ele correrá, da pele que o recobrirá, dos olhos com os quais ele olhará o mundo, do cérebro onde o pensamento brilhará, das mãos que estenderá a você, e do sorriso com o qual ele chamará "mamãe". Juntos vocês irão viver um momento decisivo; juntos sofrerão a mesma dor. O despertador tocará: pronto.
e vocês dirão ao mesmo tempo; ele: "eu quero viver minha vida"; e você: "viva a sua vida".
Com poderosas contrações das suas entranhas você o expulsará sem se preocupar com o sofrimento dele, e ele abrirá o seu caminho com força e decisão, também sem se preocupar com o sofrimento de sua mãe.
Ato brutal.
Na realidade, não. Você e ele executarão mil movimentos imperceptíveis, maravilhas de habilidade e de sutileza, a fim de que, tomando cada um sua parte de vida, não tomem além do que é devido a cada um segundo uma lei universal e eterna.
 - Meu filho.
Não, nem nos meses de gravidez, nem das horas do nascimento a criança é sua...

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