segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O fenômeno da fusão emocional mãe-bebê




O fenômeno da fusão emocional mãe-bebê por Laura Gutman e traduzido por mim.

"Seria ótimo que a maternidade trouxesse consigo somente um bebê rosado e feliz que sorri como nas páginas das revistas e que nossa vida seguisse seu curso mais pleno que antes. Mas a realidade invisível de cada uma de nós frequentemente é distinta, ainda que não contemos com palavras para nomear o que sucede com um bebê nos braços. Mescla de angústia, alegria, perda de identidade, desejo de desaparecer, cansaço, orgulho, sono e excitação.
Além do mais, há algo que não nos haviam contado ou que não estivemos dispostas a saber, fascinadas com o glamour da gravidez ou envoltas pelos milhares de conselhos recebidos para fazer as coisas bem: tornar-se mãe é deixar inundar-se pela loucura de compartilhar um mesmo território emocional com o bebê. Porque ainda que  ele já tenha nascido e acreditamos que tenha se tornado em “outro”, os campos emocionais tem outros planos. Se trata do fenômeno da fusão emocional.
Isto significa que não há fronteiras entre o campo emocional da mãe e  o campo emocional da criança. São como duas gotas de água no oceano. Não é possível identificá-las separadamente. Compreender a presença da fusão emocional só é possível se observarmos além do terreno palpável e fisicamente visível
Concretamente, nós  mães sentimos como próprias todas as sensações dos bebês. Por exemplo, nos irritam os ruídos ou as pessoas que falam em voz alta, nos enchem os peitos de leite segundos antes que o bebê desperte ou temos angustias repentinas e necessitamos voltarmos imediatamente para casa. O bebê, por sua parte, também vive “como próprias” as vivência da mãe, sem distinguir entre as que são conscientes e as que não são, entre as que pertencem ao passado, ao presente ou ao futuro. Dentro da “fusão emocional”, tudo que um ou outro percebem são vividos como próprios.
Agora vem a parte mais difícil: o bebê é um “ser sutil”, expressa especialmente todo o material emocional que a mãe registra, que está “relegado a sombra”. É dizer que expressa justamente o que   temos nos empenhado tanto a esquecer: situações confusas da infância, abandonos emocionais, solidão, perdas afetivas ou dores não nomeáveis. Dedicamos anos a superá-los para nos convertermos em mulheres maduras e independentes que somos hoje.
Contudo o bebê nos propõe que voltemos a revisar com honestidade os lugares lastimados do coração. Porque enquanto nosso coração interno chore, o bebê chorará, enquanto a raiva opere, ainda que sejamos muito simpáticas e encantadoras, o bebê gritará e se retorcerá de fúria; enquanto o desamor infantil continue instalado o  bebê não irá se acalmar.
Por isso é necessário compreender que quando um bebê continua irritado mesmo quando já foi amamentado, recebido colo, embalado e higienizado, é hora de nos perguntarmos “ que nos sucede? Em vez de “ que sucede ao bebê?”. A fusão emocional se converte em um caminho de autoconhecimento. Porque nos permite formularmos perguntas íntimas, verdadeiras, cheias de sentido, em uma dimensão espiritual talvez nunca alcançada antes". Laura Gutman

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