Arquivo pessoal |
Em minha meninice ser mãe nunca foi um sonho ou um desejo, para
falar a verdade, nem de boneca gostava muito de brincar e quando,
raramente, brincava com minha irmã de mamãe e filhinha, eu era
sempre a filha e nunca a mãe, ou seja, não fui crescendo com esse
desejo e confesso que nem ficava pensando muito nisso, mesmo quando
encontrei um parceiro bem bacana, o Fred, meu atual companheiro,
demorei para pensar nisso, tanto para mim quanto para ele esse
assunto não estava muito em pauta. Se não me engano, quando
estávamos juntos a uns 6 anos e morando juntos já uns 4, eu com 27
anos e ele com 30 começou a emergir uma leve curiosidade pelas
grávidas, achava incrível essa história de ter um bebê se
desenvolvendo dentro da barriga, a barriga crescendo, crescendo...
Acho interessante ressaltar que uma das minhas principais
características é desejar e experimentar novas
experiências e, como mulher que sou, ficava pensando que passar por
isso era uma possibilidade, mas naquele momento era apenas uma
curiosidade de me sentir grávida, e não necessariamente ser mãe, isso para mim era um
grande conflito: - Como assim ficar grávida e depois não querer assumir tais responsabilidades? Bom, esse sentimento foi
postergando ainda mais essa possibilidade até que num certo momento
esses meus receios foram ficando menores que o desejo de vivenciar
algo dessa dimensão, não tinha nada que pudesse me impedir, estava
trabalhando em um emprego estável, tinha uma relação amorosa
também estável e que me apoiava, tinha um plano de saúde, ganhava
razoavelmente bem, bom, aquilo que eu achava, a princípio, ser necessário eu já possuía, então não pensei muito e começamos a tentar! Para
minha surpresa engravidei já no primeiro mês e então minha
trajetória começou... Estar grávida para mim era incrível, não
tive qualquer desconforto na gravidez, só curtia, conversava com meu
bebezinho, sentia as mudanças em meu corpo e ia me preparando física
e psicologicamente para o parto e pós-parto, confesso que esse
segundo me assustava mais, por isso fui me cercando de apoios
emocionais e materiais para, caso eu precisasse, eu os ter! Isso me tranquilizava!!! Bom, para o parto eu já estava
descolada, já sabia o que eu queria: um parto mais natural possível,
uma experiência prazerosa e transformadora. Sempre acreditei na
possibilidade deste parto e o considerava até necessário para me
ajudar nesta passagem de deixar de ser filha para ser mãe, para mim
sempre foi e continua sendo um ritual de passagem, um momento em que
nasceria não só um bebê, mas também uma mãe, um pai, enfim, uma
nova família! Isso de fato aconteceu! Tive uma experiência
maravilhosa de parir, no meu tempo, no tempo necessário que eu
precisava para encarnar uma mãe, não uma mãe qualquer, mas a mãe
que faz escolhas conscientes, uma mãe ativa e compromissada com meu
próprio processo de desenvolvimento, com meu auto-conhecimento e,
principalmente, responsável na tarefa de contribuir na formação de
um novo indivíduo, uma tarefa que exige bastante, que nos faz pensar
em todas as possibilidades e nos coloca em muitos conflitos entre
tantas opções e modelos existentes. Descobri que essa era minha
maior dificuldade na aceitação pela maternidade, pensava que jamais conseguiria me enquadrar nos modelos vigentes, nas rotinas, nas
ações dadas como possíveis para uma mãe, pensava que teria que
abandonar tudo que eu era, não poderia mais viajar, vivenciar novas
experiências, não poderia mais estudar, ler um livro, que minha
vida estaria condenada a sei lá o quê. Talvez até estivesse se eu
não percebesse que tudo pode ser diferente, que não preciso seguir
rotinas específicas, mas sim respeitar ritmos internos e externos
meus e do meu filho, respeitar nossos tempos e viver de uma forma
mais livre. Pensar na maternidade como um processo individual é
libertador, pois permite que façamos tudo de nosso jeito sem nos
sentirmos culpadas e com a sensação de que estamos fazendo tudo
sempre errado, sentimento esse muito presente na vida de tantas mulheres. Bom, para isso tive que fazer muitas escolhas em minha vida,
a primeira delas foi abandonar aquele emprego estável e escolher uma
profissão que me respeitasse mais, aprendi que para respeitar o
ritmo do outro é imprescindível, primeiramente, nos respeitarmos e
é esse combinado que tenho feito com meu filhote, as regras são
construídas por nossos limites e assim vamos convivendo em paz e do
nosso jeito! Um jeito meio diferente de ser, mas que é maravilhoso,
que me ensina coisas novas a cada momento e que alimenta aquela minha
necessidade de estar sempre vivendo experiências novas!
Bom, tudo que tenho aprendido neste meu processo é que não há
receitas prontas e não há certo e errado, existe, sim, o caminho
possível para cada família! Aprendi que o melhor caminho,
necessariamente, não é aquele em que a mulher amamenta em livre
demanda, que não dá mamadeira, nem chupeta, que usa fraldas de
pano, que faz cama compartilhada, não dão vacinas, não dá doces,
que não põe na creche, que só usa remédios naturais, que faz
educação ativa e sei lá mais o que, opções essas muito valiosas,
mas que para mim só são válidas quando contribuem no
fortalecimento da uma mulher e não a faz sofrer, tornando seu caminho, muitas
vezes, insustentável. Independente dos caminhos que serão trilhados
considero importante que seja uma escolha que venha do íntimo de
cada mãe e de cada pai, após terem passado por reflexões e
questionamentos internos, isso sim, é o que acredito e defendo ser
“maternidade ative e consciente”. Esse é o maior aprendizado que extraio
de todo meu processo e é o conselho mais sábio que consigo dar neste Dia das Mães! Desejo que cada uma de nós possamos encontrar nossos
próprios caminhos e que seja um caminho não-violento, mas que
também nos faça sair de uma zona de conforto, superando nossos
limites e descortinando novas possibilidades! Cá estou eu, novamente, aberta a novas experiências, provando dos desafios de uma nova
gestação e disposta a superar mais e mais meus próprios limites!
Eu amo ser mãe, ser mãe do meu jeito!!!
Feliz todos os dias de Dia das Mães!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário