Frederick Leboyer em 74 já afirmava que os recém-nascidos ouvem, vêem, sentem cheiros, enfim, têm seus sentidos bastante aguçados, mas, infelizmente, esta linguagem é ainda desconhecida por muitos, o que torna o momento do nascimento e também os posteriores tão angustiantes para o bebê.
Escolher a via do nascimento humanizado é ter conhecimento acerca dos procedimentos pelos quais os bebês passarão e, então, fazer escolhas conscientes e necessárias, permitindo que este momento de transição seja o mais suave e seguro possível. Infelizmente, os bebês nascidos em hospitais sofrem inúmeras intervenções desnecessárias, como aspiração, introdução de sonda pela boca até o estômago e pelo ânus, aplicação de colírio de nitrato de prata, aplicação intravenosa de Vitamina K, banho com sabão e esponja, separação da mãe e alimentação artificial, além do clampeamento do cordão imediatamente após o nascimento.
Não fazer desnecessariamente quaisquer destes procedimentos é uma postura respeitosa, é um ato de amor e comunicação e é por onde começamos uma relação diferenciada com nossos filhos e estes com o mundo.
A importância de cortar o cordão umbilical somente após o término da pulsação sanguínea está relacionada ao respeito ao modo como estão mãe e bebê antes do nascimento e a respectiva transição pela qual passarão; antes de nascer eles são um só, vivem na unidade e o bebê ignora os contrários, sua temperatura é a mesma que a da mãe, ela respira pelo bebê, alimenta-o, carrega-o, abriga-o, enfim, o bebê está numa dependência absoluta e o sangue que até então ia pelo cordão umbilical e passava pela placenta deixa esta bela estrada e aventura-se através dos pequeninos pulmões, isso significa que ao respirar sozinho o sangue abandona o velho caminho cordão-placenta e tal transição é sentida pela criança. Clampear o cordão somente após o término da pulsação do sangue, mais ou menos cinco minutos, garante uma transição lenta e tranquila, onde o bebê continuará recebendo oxigênio, agora por dois sistemas; o cordão e também dos seus próprios pulmões, até que ele esteja pronto para cumprir tal tarefa sozinho, dando o tempo necessário para a criança se adaptar a sua nova tarefa de respirar, o que faz toda diferença. “Oxigenado por estes dois lados, passa de um a outro progressivamente, sem brutalidade. E o ouvimos chorar muito pouco” (Leboyer. Nascer Sorrindo), ao contrário de quando o corte é feito logo após a saída do bebê, em que o cérebro é brutamente privado de oxigênio e todo organismo passa a reagir, sendo a respiração, a resposta a tal agressão.
Num trecho do livro Nascer Sorrindo de Leboyer, o autor responde sabiamente a uma pergunta sobre como ficam as coisas se não houver qualquer intervenção e o cordão for preservado até o término da sua pulsação, vejamos sua resposta:
“Duplamente oxigenado, o cérebro do bebê não sente, em nenhum momento, falta de oxigênio. Nada faz funcionar o sistema de alarme. Nem agressão, nem cianose, nem pânico, nem ângustia. Uma passagem lenta e progressiva de um estado a outro. O sangue, por seu turno, muda de rota sem problemas. Os pulmões não são forçados em nenhum momento. Nem externa nem internamente”. (Leboyer, p. 74)
Outra sábia resposta à pergunta: - o que foi preciso para conseguir o milagre?
Apenas um pouco de paciência. Apenas não fazer nada bruscamente. Saber esperar. Saber dar à criança tempo para instalar-se. Lógico que é necessário treinamento, do contrário, como ficar cinco longos minutos sem fazer nada? Quando tudo nos impele em sentido contrário, a distração, os automatismos, o hábito. E nossa eterna impaciência”. (Leboyer, p. 72)
Por tudo, ao pensarmos num mundo mais tranquilo, onde todos se amem e se respeitem, devemos pensar em que momento se dá tal aprendizado e, então conseguiremos responder à pergunta: - Faz diferença os procedimentos pelos quais as crianças vivenciam em seus nascimentos?
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